DIVAGANDO

Isolado, submetido a um cruel “confinamento” sem fim, um verdadeiro “lockdown”, minha memória me leva aos confins de minha infância, na pequena e sempre querida cidade de Pau dos Ferros.

Começo dizendo que nasci na cidade de Apodi. Meus pais se mudaram para Pau dos Ferros (papai era guarda-mosquitos) quando eu tinha apenas um mês.

Minha mãe, dona Raimunda Queiroz, era professora de primeiras letras para crianças.

Meu pai, José Luiz da Silva, era natural de Picuí (Paraíba), e minha mãe, Raimunda Florêncio de Queiroz, nasceu em Pau dos Ferros e era a quinta filha de uma numerosa família.

O casal João Florêncio de Queiroz e Francisca Alzira de Souza Rêgo tinha os seguintes filhos:

Francisca Florêncio de Queiroz (Qui)
Pedro Florêncio de Queiroz
Maria Estelita de Queiroz
José Florêncio de Queiroz
Raimunda Florêncio de Queiroz
Cícera Florêncio de Queiroz
Luiza Florêncio de Queiroz
Ubaldina Florêncio de Queiroz
Antônio Florêncio de Queiroz
Manoel Florêncio de Queiroz

Sobre o casal: Meu avô, João Florêncio, era bisneto de Manoel do Rêgo Leite, neto de Delfino Horácio Leite e filho de Josefa Elvira do Rêgo Leite.

Minha avó, Francisca Alzira de Souza Rêgo (Titinha), era neta de Manoel do Rêgo Leite e filha de Mariana Ricardina Souza Rêgo.

Resumindo: Delfino, avô de João, e Ricardina, mãe de Titinha, eram irmãos.

Explicando: Minha avó, Francisca Alzira, era neta de Manoel do Rêgo Leite.

Conclusão: João Florêncio e Titinha eram parentes próximos. “O ancestral” Manoel do Rêgo Leite foi a origem de tudo.




Considerações sobre a família

A viúva Titinha (minha avó) era muito pobre e vivia do rendimento de uma “vazante” que possuíam no açude “25 de Março”, que produzia melancia, melões, jerimuns e diversas verduras, vendidas na feira de Pau dos Ferros.

Com a morte de meu avô, aos 44 anos, minha avó ficou com 9 filhos e grávida do 10º (Manoel).

O 4º filho, Zé Florêncio, o líder da família, determinou que os homens (ele e Pedro) iriam trabalhar na vazante e as 6 filhas iriam estudar.

Foi assim que Estelita, Raimunda e Cícera, ao concluírem o primário no grupo escolar “Joaquim Corrêa”, ensinaram como professoras as primeiras letras à criançada e aos jovens também.

Aí está a origem dessa numerosa família, composta de pessoas inteligentes e dignas, cuja união era reconhecida por todos.

Tivemos, eu e os primos, uma bela infância contando com a orientação decisiva de todos os familiares.

No meu caso, tive uma infância tranquila, ao lado dos demais primos e bons amigos. Lembro-me de um deles, Zé Américo, jogando futebol com “bola de meia” feita pelos meninos.

Dormindo na casa de minha avó desde os 7 anos, comecei a aprender coisas importantes que conservo até hoje: levar uma vida simples, desprovida de vaidades, fazer amigos e evitar o ódio entre as pessoas.

Lembro-me, naquela época, dos primos Edmilson, Estela, Luiza, Lurdinha, Zé Godô, Carmita, Toinha, Raimundo, Zélia, Manoel Paiva, Raimundo Escolástico (Lau), Dandão e Heriberto (Poroca), entre muitos outros.

Destaco uma particularidade desta numerosa família: sendo Pau dos Ferros uma pequena cidade e todos vivendo ali, os filhos eram vigiados por toda a família, sem distinção. Era uma família muito unida, e todos os casais mandavam em todos os meninos.

Com 11 anos, sofri meu primeiro impacto com a morte de minha mãe, Raimunda, aos 32 anos, durante o parto.

Mamãe deixou 4 filhos, a saber:

— Francisco de Assis Queiroz Silva (Cizinho)
— Francisco Canindé Queiroz e Silva
— Maria Auxiliadora Queiroz Silva (Dôra)
— Francisco Aécio de Queiroz e Silva

Canindé nasceu 7 anos depois de mim, coincidentemente no mesmo dia que eu (eu em 14/04/1935, ele em 14/04/1942).

Quem ficou tomando conta da casa foi Enedina, uma “pretinha” espetacular, carinhosa e que cuidava de todos como seus filhos.

Lembro-me também de “Boré”, que morava com a gente e que me fazia companhia naquela época.

Ao perder minha mãe, ganhei novas 5 mães: suas irmãs e minhas tias, que cuidavam de mim e de toda a família.

Além das tias, a diretora do grupo escolar “Joaquim Corrêa”, onde eu cursava o 5º ano primário, dona Sotera, muito amiga de mamãe, achou que eu estava muito novo, tinha 11 anos, para começar o ginasial e mandou-me repetir o 5º ano. Assim, fiz o 5º ano primário 2 vezes (para ficar mais velho).

Guardo também uma forte lembrança de Titinha. Dormindo em sua casa, eu a ajudava em tudo. Titinha era muito católica, rezava a noite inteira, tomando café e fumando seu inseparável cachimbo.

À noite, enquanto rezava seu rosário, eu ficava no maior aperreio porque, quando o barbante arrebentava, ela me mandava fazer um novo, sob a luz de uma lamparina.

Lembro-me ainda de Titinha fazendo café de madrugada para dar ao pessoal que passava para assistir à missa das 4 da manhã, celebrada pelo inesquecível padre Caminha. Eu, algumas vezes, como “coroinha”, ajudava o padre na missa e nos batizados, tudo em latim.

Terminando o primário, tive a sorte de ser chamado por meu tio Zé Florêncio para fazer o ginásio em Mossoró, para onde ele havia se mudado, pois já era construtor.

Destaco aqui a grande importância deste tio para a família, ao nos levar para estudar em Mossoró. Naquele tempo, o limite geográfico de nossa família era Pau dos Ferros.

Penso que Zé não avaliou, à época, a grande importância do seu ato ao abrir as portas do “mundo” para toda a sua família.

Destaco alguns que foram para Mossoró fazer o ginásio: eu, Dandão, Heriberto, Canindé, Edmilson, Raimundo Escolástico e muitos outros de nossa família, além dos familiares de dona Neves, Terezinha, Zé Lira e Jacira.

A casa de Zé e Neves era uma “embaixada” da família.

Chegando em Mossoró, iniciei uma nova etapa de minha vida. Além do estudo, orientado por Zé, comecei a dar meus primeiros passos aprendendo a trabalhar na oficina mecânica de sua propriedade.

Quase todos estudávamos na “Escola Normal de Mossoró”, conhecida como a “Escola dos Pobres”, pois os ricos estudavam no “Ginásio Santa Luzia”.





Ainda em Mossoró, me tornei amigo, entre outros, de Moisés, Luiz Torquato e Nilton Pessoa Cavalcante. Falarei sobre eles noutra oportunidade.

Não posso esquecer de citar a grande amizade que fiz com “Catão”, que se perpetuou por um longo período, pois fomos para o Rio de Janeiro na mesma época. Convivi com “Catão” no Rio, morando, estudando e trabalhando juntos.

“Admirável” amigo, o advogado Dr. Francisco Linhares Catão.

Concluindo o ginasial em Mossoró, colaborei com o grau em dezembro de 1952 e regressei a Pau dos Ferros.

Papai, viúvo, meus irmãos “pequenos” e eu, já com “outra” cabeça, rapazola, não mais me adaptei àquela vida.

Comecei a pensar em “ir embora” para outro lugar onde pudesse continuar meus estudos. Tomei coragem para dizer a papai que eu queria ir embora.

Meu pai reagiu, chateado, dizendo-me: “Sua casa é aqui, sua família está aqui e é aqui que você vai ficar”. Discutimos e papai, já cansado e chateado, disse que não tinha para onde me mandar, que não tinha dinheiro, etc. Depois, mais calmo, falou que ia escrever para meu tio no Rio de Janeiro (Florêncio, irmão de mamãe) consultando-o.

Feito isto, alguns dias depois, recebeu um telegrama de Florêncio “autorizando-o” a mandar o menino.

E foi assim que, um mês depois de concluir o ginásio, no início de fevereiro de 1953, eu viajei para o Rio de Janeiro. Em abril do mesmo ano, eu completaria 17 anos.

Aí começa outra “história” da minha vida.

Mudança para o Rio de Janeiro

Florêncio me recebeu de madrugada, no aeroporto Santos Dumont, e fomos para a sua residência, no bairro do Méier, Rua Magalhães Couto. Lá chegando, vi uma moça no apartamento e indaguei: "Quem é essa mulher?" Ele respondeu que era sua esposa e que havia se casado na semana passada. Fui morar na residência do meu tio, em plena Lua de Mel. Neuza, sua esposa, costuma dizer brincando que foi uma "Lua de Mel a três" (Antônio, Neuza e Cizinho).



No Rio, recebi a primeira orientação do meu tio, que disse: "Aqui no Rio, quem quiser vencer na vida, tem que trabalhar e estudar. Foi assim que eu fiz e é assim que você vai fazer."

Quero salientar, inicialmente, que tive muita sorte em ter na minha vida um orientador tão inteligente como meu tio.

Florêncio obteve um emprego para mim na Salmac (Salicultores de Mossoró-Macau LTDA) no bairro de São Cristóvão.

Fez, também, minha matrícula no 1º ano científico do Colégio Frederico Ribeiro, na Rua do Ouvidor.

Eu começava, assim, uma jornada no Rio de Janeiro, que duraria 30 anos.

Emprego na Salmac

A Salmac era administrada por dois diretores-gerentes:

— Vicente Fernandes Lopes (representando a Samtef com 52% do capital social).

— Paulo Fernandes (representando a Transbrasilia com 48% do capital social).

Florêncio conseguiu meu emprego com Vicente.

Inicialmente, fui admitido como auxiliar de escritório, fazendo serviços gerais.

Posteriormente, fui trabalhar fazendo um borrão do livro diário na contabilidade, orientado por José Cesário, o contador da empresa.

Os dois únicos sócios da Salmac, Vicente e Paulo, se desentenderam, e Vicente foi substituído por Waldemar Fernandes Maia, presidente da Samtef.

Em seguida, este último brigou com Paulo Fernandes e foi substituído por Alfredo Souza Melo, vice-presidente da Samtef.

Melo também deixou a empresa e, em seu lugar, assumiu Antônio Florêncio, meu tio, que era diretor da Samtef.

Em novembro de 1953, já aprovado no 1º ano científico, fui aconselhado por Florêncio a abandonar o científico para cursar Contabilidade, já que eu estava trabalhando nesse setor da empresa.

Assim sendo, fui estudar Contabilidade na Escola de Comércio Cândido Mendes, onde Florêncio, já formado em Contabilidade, estava estudando Economia.

Terminando o curso de Contabilidade, fiz vestibular e ingressei na Faculdade de Direito Cândido Mendes (UCAM - Universidade Cândido Mendes).

Quando eu iniciava o 5º ano da faculdade, os diretores-gerentes da Salmac, Paulo Fernandes e Antônio Florêncio, se desentenderam, resultando na demissão dos gerentes das filiais de São Paulo e Santos, que haviam ficado ao lado de Paulo Fernandes. Com isso, fui transferido para o escritório de São Paulo e tive que concluir a faculdade viajando entre São Paulo e o Rio.

Casei-me em 1961 e concluí o curso de Direito em 1962, ano em que nasceu, em Santos, minha primeira filha, Denise.




Minha esposa Neuza, carioca, não se adaptou bem em Santos, como é difícil arrancar uma carioca do Rio!

Decidi trazer Neuza de volta para o Rio, ficando eu durante a semana em Santos (São Paulo), viajando todas as sextas-feiras para o Rio, voltando nas segundas-feiras.

Permaneci durante sete anos viajando pela rodovia Presidente Dutra, até ser chamado de volta ao Rio para ser diretor-gerente da Salmac, já que Florêncio também era diretor das empresas Sosal e Salinas Guanabara.

Enquanto isso, a Samtef e a Transbrasilia continuavam a brigar (Florêncio x Paulo Fernandes). Paulo Fernandes foi demitido, ficando a Salmac "nas mãos" de Florêncio e Assis. Posteriormente, entrou como sócia na Salmac a Morton Corporation, empresa americana que adquiriu a parte da Transbrasilia.

No Rio, além de diretor da Salmac, eu dirigia também a Sosal e a Salinas Guanabara, além de ser procurador da Samtef.

Eu era um pequeno acionista da Samtef — S.A. Mercantil Tertuliano Fernandes.

Contudo, não poderia encerrar esta pequena história da minha vida no Rio sem falar sobre meu tio e minha "mãe" no Rio, minha querida tia Neuza, esposa de Florêncio.

Começo por falar sobre Neuza, pessoa que sempre me tratou com muita amizade e afeto. Conheci Neuza, recém-casada, professora, lecionando em Bangu.

Neuza, quando normalista, que segundo Nelson Gonçalves, "vestia azul e branco, com um sorriso franco", era quase sempre a primeira colocada de sua turma. Ao concluir o curso, logo se casou com meu tio.

Neuza me orientava em tudo. Estive doente, e ela cuidou de mim como uma verdadeira mãe. Devo-lhe muitos favores e tenho por ela um profundo respeito e muito carinho.

Quanto a Florêncio, quero dizer que, dos sobrinhos que foram para o Rio levados por ele, eu fui o que mais se aproximou dele. Orientava-me de todas as maneiras na vida particular, nos estudos, no trabalho, em tudo.

Quando cheguei ao Rio, ele já era contador da Samtef. Acompanhei toda a trajetória vitoriosa de meu tio. Chegando a diretor, operou uma "revolução" na S.A. Mercantil Tertuliano Fernandes (Samtef).

O algodão e o óleo, produzidos no Nordeste, devido ao "bicudo", marchavam para a extinção. Florêncio, que na ocasião era presidente da Salmac — Salicultores de Mossoró-Macau LTDA, logo notou que o sal era a saída para a crise que a firma enfrentava.

A Samtef possuía várias pequenas salinas às margens do Rio Mossoró, em Areia Branca. Florêncio tratou de unificá-las. Na margem direita do rio, criou a Sosal (Sociedade Salineira do Nordeste), e na margem esquerda, criou a S.A. Salinas Guanabara.

Na época da colheita do sal, trabalhavam cerca de 4.000 pessoas naquelas salinas. Com o apoio da Sudene, conseguiu mecanizá-las, provocando uma autêntica revolução industrial, reduzindo os custos e aumentando a produção do sal (economia de escala).

Com um custo menor, começou a pensar no embarque do produto. Foi aí que surgiu o Terminal Salineiro de Areia Branca — Termisa, depois de uma grande luta e com a ajuda essencial do ministro dos transportes Mário Andreazza, de quem era amigo.

É preciso esclarecer que, antes da Termisa, um pequeno navio levava até 15 dias para ser carregado (500 toneladas ao dia).

Com o terminal salineiro, que ficava no meio do mar, a 22 km de Areia Branca e a 44 km de Macau, carregava-se um navio através de uma correia transportadora, na base de 1.500 toneladas por hora, tornando possível o recebimento de grandes navios graneleiros.

Na política, o "cerco" teve início após sua liderança ter sido notada pelo então governador Cortez Pereira. Lembro-me de uma reunião no Rio, com a presença de Cortez, Dinarte, Jessé e o futuro deputado.

A presença de Florêncio como deputado federal, durante 16 anos (quatro mandatos), foi decisiva para a construção do terminal salineiro de Areia Branca.

Como seu assessor parlamentar, tive a oportunidade de aprender as "coisas" da política que iriam me ajudar nas atividades desempenhadas em Natal.

Amigos do Rio

Relembro com saudade alguns amigos que fiz no Rio de Janeiro:

— Moisés da Costa Lopes

Médico, fizemos o primário em Pau dos Ferros e o ginásio em Mossoró. Fui para o Rio, Moisés fez o científico e, em seguida, dirigiu-se para Recife, onde cursou medicina. Novamente nos encontramos quando ele foi fazer residência no Rio. Meu grande amigo e de Neuza. Faleceu em São Paulo.

— Luiz Torquato de Figueiredo (Galego)

Filho de Seu Gaudêncio, fez o 5º ano primário em Pau dos Ferros, o ginásio em Mossoró no Colégio Santa Luzia, o científico e depois medicina na Faculdade de Medicina do Recife. Indo fazer residência no Rio, nos reencontramos e fizemos uma grande amizade. Fui seu padrinho de casamento com a médica Dra. Mércia, que também fazia residência no Rio.

— Nilton Pessoa Cavalcante

Cearense

Fizemos o 5º primário em Pau dos Ferros e o ginasial em Mossoró. Perdi o contato com ele durante anos, mas voltamos a nos reencontrar no Rio, quando este fazia o curso militar na Academia Militar de Agulhas Negras - AMAN, em Resende (Rio de Janeiro). Engenheiro militar e civil, terminou a carreira militar como General e atualmente mora em Brasília. Grande amigo por mais de 40 anos, sou seu compadre. Foi casado com nossa colega de ginásio “Vilani” (falecida).

-Edil Fernandes da Silva

Quando cheguei ao Rio, Edil (advogado) era o funcionário mais graduado da Salmac, chefe de todos os funcionários. Eu, rapazola com 16 anos, fiz amizade com ele e comecei a progredir na Salmac. Ao sair da empresa, foi trabalhar na “Salinas Alfredo Fernandes” de Ademir Fernandes, seu parente. Posteriormente, quando eu já era diretor da Salmac, ele voltou a trabalhar conosco. Mantenho estreita amizade com sua família até hoje.

-Francisco Fausto Paula de Medeiros

Nascido em Areia Branca, estudamos juntos o ginásio na “Escola Normal”. Depois de 30 anos, reencontrei o Dr. Fausto em Brasília, como presidente do Tribunal Superior do Trabalho. Advogado muito inteligente, costumava, no ginásio, fazer caricaturas dos professores.

-Milton Leite

Exemplo de boa gente. Eu já trabalhava na Salmac há vários anos, quando o “Mossoroense” Milton foi meu colega de trabalho. Não quis estudar. Durante anos, moramos juntos na companhia do areia-branquense Antônio Fernandes Neto, hoje escritor e jornalista em São Paulo. Milton logo enturmou-se com os demais, era extremamente humilde. Fiz amizade com toda a sua família.

-Francisco Linhares Catão

Como relatei antes, Dr. Linhares faz parte da minha vida no Rio. Fizemos o ginásio em Mossoró, na “Escola Normal”, fomos para o Rio na mesma época, trabalhamos e estudamos juntos, fizemos o curso de Direito na “Faculdade de Direito Cândido Mendes”. Foram 30 anos de estreita amizade. Era um “filósofo”. Fumava muito, comia pouco e gostava de uma bebidinha. Linhares faleceu “antes do tempo” (câncer de pulmão).

-Antônio Florêncio de Queiroz Júnior

Júnior não é do meu tempo no Rio. Florêncio e Neuza tiveram dois filhos, Tânia e Júnior. Como membro próximo da família, eu estava na maternidade quando nasceram. Tânia é a primogênita e Júnior o mais novo. Acompanhei o crescimento dos dois, convivi muito com eles. Júnior já demonstrava, quando menino, traços da personalidade do pai, meu tio. Hoje vejo confirmar-se minha admiração por ele; na faixa dos seus 62 anos, é presidente da Fecomércio no Rio de Janeiro, eleito por unanimidade. É competente, sabe liderar, gosta de trabalhar muito e, certamente, continuará com um futuro brilhante.


Neuza, minha esposa

Antes de encerrar meu relato sobre o Rio (minha vida no Rio), não poderia deixar de falar sobre Neuza, a minha esposa.

Soldado do exército, eu morava num quarto alugado por “seu” Alexandre e “dona” Maria, na Rua Figueira de Melo, em São Cristóvão. Junto comigo também moravam lá Milton Leite e Antônio Neto. O casal “Alexandre” tinha cinco filhos: Maria, Lourdes, Waldir, Neuza e Osvaldo. E Milton logo fez amizade com todos. Eu, soldado do exército, não era muito próximo do casal. Naquele tempo, soldado não tinha muito conceito. Eu só vivia fardado para não pagar o transporte de “bonde”.

Com o decorrer dos anos, comecei a gostar daquela lourinha (Neuza), ela com 17 e eu com 19 anos. Começamos a namorar e nos casamos em 1961. Foram seis anos de namoro. Neuza sempre teve muita paciência comigo. Não é à toa que fomos casados durante 57 anos. Moramos no Rio, Santos, Teresópolis e Natal. Tivemos duas filhas, a santista Denise e a carioca Cláudia.

Eu viajava muito e sempre que podia levava Neuza comigo. Fizemos, entre Rio e Natal, cerca de 30 viagens de automóvel, levando Denise e Cláudia.




“Neuza, é uma presença na minha saudade.”

Para concluir, lembro da estrofe de um verso do poeta:

“Tu me ensinaste a te amar, mas esqueceste de me ensinar a viver sem ti.”




Casamento Cizinho e Neuza

Em 15 de julho de 1961, Cizinho e Neuza uniram-se em matrimônio. Essa data marcou o início de uma jornada compartilhada, com amor e cumplicidade, que perdurou por muitas décadas.


Rio de Janeiro

Não poderia encerrar este “devaneio” sem falar da cidade da qual sinto muita saudade. Foram 30 anos bem vividos, grande parte da minha vida, onde tive a sorte de conviver com parentes e amigos nesta cidade que considero “a mais bonita do mundo”. Vivi ali num período em que imperava a música que celebrava o amor (samba-canção), época de grandes boates, grandes cinemas, bons teatros e grandes times de futebol (Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo, e outros).

Andava no Rio, por toda parte, a pé. Era leitor assíduo de Nelson Rodrigues ("A Vida Como Ela É"), do jornal “Última Hora”, de João Saldanha (comentando o esporte).

Tempo de políticos da estirpe de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda, Hermes Lima, Adauto Lúcio Cardoso, Aliomar Baleeiro e muitos outros.

Eu não me preocupava com violência (quase não havia), não tinha a menor preocupação. Fiz, no Rio, o que mais gosto de fazer: muitas amizades, e em todos os setores. Tive muita sorte em ir residir no Rio e carrego uma imensa saudade.

Natal

Tive que mudar para Natal. O meu Rio de Janeiro já não era o mesmo (época de Brizola e dos governadores que o sucederam). A convite de Manoel Paiva, vim ser seu sócio e de Milton Leite na “Bonsucesso Materiais de Construções”. Concorríamos, entre outros, com Queiroz Oliveira, Saci Construções, Armazém Pará, “gigantes do setor de materiais de construção do estado”. Duramos 4 anos.

Não foi fácil “arrancar” a família do Rio. Houve resistência de toda espécie, familiar e dos amigos próximos, mas eu estava pensando nas filhas (com 13 anos e 11 anos). No Rio, o acesso social estava ficando difícil, as meninas estavam crescendo e precisavam continuar os estudos. Confesso que não foi fácil trazer as “cariocas” para cá.

Em Natal, residia “dona” Cirilia Corrêa Rêgo, sobrinha de José Guedes do Rêgo, grande e bondoso amigo. Cirilia era viúva de papai e tinha 3 filhos: Francisca Diassis Corrêa, Maria de Fátima Corrêa e Silva, e José Luiz da Silva Júnior. São todos meus irmãos. Pessoa excepcional, criou os filhos com uma disciplina singular, formando todos.


Emprego na Cosern

Depois da “Bonsucesso”, com a ajuda do deputado federal Antônio Florêncio, fui trabalhar na Cosern, onde fiquei por 12 anos. Posteriormente, fui “Superintendente Regional da Sudene”. Depois da Sudene, fui diretor financeiro do “DER” e, mais tarde, Subsecretário da “SEGOV” (Secretaria do Governo do Estado), no governo de Garibaldi Alves.

Agremiações

Com o objetivo de ampliar meu círculo de amizades, me associei a diversas entidades que congregam pessoas de várias profissões, como a seguir descrevo:

ADESG — Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra. Atualmente, em Natal, tem como delegada a procuradora de justiça Dra. Zélia Madruga e como vice-delegado Francisco de Assis Queiroz Silva.

SOAMAR — Sociedade dos Amigos da Marinha. Sou sócio-fundador há 38 anos.

UNO — União Natalense de Oficiais. Entidade que congrega oficiais aposentados das três Forças Armadas: Exército, Marinha e Aeronáutica.

GHOST — Do Outro Lado da Vida (Amigos para Sempre). Fundada e presidida pelo Capitão de Mar e Guerra (C.M.G) Affonso Henriques Cortes Real Nunes (Affonsinho).

CLUBE DOS 100 — 100 dinheiro, 100 juízo, 100 vergonha. Presidido por anos por José Renato Leite (falecido).

ÁGAPE — Amigos Solidários. Com sede no Late Clube de Natal, reúne aposentados idosos.


Reencontro Inesperado

Diretor de empresas no Rio, fui solicitado por dois colegas cariocas, também diretores, para ir à cidade de Pau dos Ferros e mostrar-lhes os imóveis pertencentes à “Samtef S.A. Mercantil Tertuliano Fernandes”. Ao chegar, fomos visitar o local onde funcionava a “usina de descaroçar algodão”. Contei a história da usina.

Próximo a nós, notei a presença de um senhor idoso, vestido modestamente, prestando atenção na conversa. Terminando, o velhinho de barba e cabelos brancos se dirigiu a mim e perguntou: “Você é Cizinho?”

Respondi: “Sim, afirmativo.”

O idoso então falou: “Você teve coragem, foi embora, estudou, “deu para gente”. Eu, que aqui fiquei, não estudei, “não dei pra nada”.”

Então indaguei: “Mas, quem é o senhor?”

Ele respondeu: “Era seu amigo quando menino, jogava futebol, tomava banho no açude, fazia caçadas, brincávamos sempre juntos. Eu sou Zé Américo, seu grande amigo.”

Surpreso e emocionado, lembrei-me de meu amigo e verifiquei que estava com a razão, quando, no ano de 1953 (com 16 anos), tive aquela “briguinha” com papai, querendo ir embora para estudar.

Sorte Grande

Tive em minha vida muita sorte. Aprendi a ser simples, desprovido de quaisquer vaidades, e aprendi muito com as pessoas e meus tios. Sempre solidário, eu e Florêncio ajudávamos as irmãs que solicitavam algum auxílio. No meu modesto entender, o dinheiro é “meio” e não “fim”; é o meio que temos para ajudar os outros.

Destaco, por fim, as pessoas que me influenciaram definitivamente, ajudando-me de todas as maneiras:

Meus pais: Zé Luiz e Raimunda.
Titinha: Francisca Alzira do Rêgo, minha avó.
Zé Florêncio, meu tio.
Antônio Florêncio, meu tio.
Neuza, minha saudosa esposa.
Encerro esta longa e demorada “Divagação”, transcrevendo o verso de uma música que ouvi na mocidade. Dizia o poeta:

“Eu daria tudo, na vida
Pra voltar ao meu tempo de criança
Eu não sei por que a gente cresce
Se não sai de nós essa
LEMBRANÇA.”

Natal (ano da pandemia), Setembro de 2020

Francisco de Assis Queiroz Silva




Créditos : Matheus Tenorio